Crítica
da autocrítica
Reflexões
para «sair por cima» depois de alguns erros
Rebelión/Universidad
de la Filosofía
De
pouco serve uma autocrítica puramente confessional se aquilo
que é preciso é corrigir, no todo ou em parte, uma acção falhada.
Ou muitas. Necessita-se de uma abordagem correcta que abranja tanto o
objectivo como o subjectivo nas suas proporções relativas e nas
suas relações dialécticas. Requerem-se consciência, ciência e
programa. Não é preciso sentir-se compungido quando “se
mete a pata na poça”, o que está errado, por ser inútil, é a
imobilidade, o conformismo ou a auto-comiseração. Também não
chega “bater no peito”.
O
vicio mais frequente nas “autocríticas” acaba por ser o
subjectivismo. Muitas das considerações, predominantemente
subjectivas (e aí inclui-se a «autocrítica»), cometem o erro
inicial de se basearem no caracter abstracto que produzem os erros e
o defeito de impedir que se parta daí, para o concreto na superação
de cada problema ou erro. Não basta «sentir-se mal» e encontrar
«desculpas», uma autocrítica socialmente útil exige acção
imediata e rectificação concreta e nada disso se consegue sem um
programa antecedente e um programa de soluções. Um programa
científico. Cada erro tem a sua história e é necessário
identificar as raízes de un passo equivocado que podem
inclusivamente chegar à própria origem da metodologia de acção e
suas referências filosóficas. Por isso, a autocrítica, como parte
imprescindível do método de acção, deve ser permanente, dinâmica
e eficaz… exige um treino rigoroso e não admite condescendências
nem auto-complacências. Nada fácil.
A
autocrítica, com método científico, compreende diagnósticos,
qualitativos assim como quantitativos, permanentes, com plasticidade
e velocidade de aplicação à prova de desânimos, desleixos ou
ineficiências. A autocrítica deve, inclusivamente formar parte das
tarefas de planificação e deve desenvolver-se, sempre, um passo à
frente da acção. Se se deixa para trás a autocritica, é caso para
alarme de autocrítica de emergência. Não poucos projectos e
experiências quotidianas requerem uma equipa especializada em
autocritica, com um programa de monitorização permanente, capaz de
exercer a responsabilidade de corrigir erros de maneira imediata.
Acontece também que se requeira um programa de valorização crítica
dos contributos vindos de outras frentes de críticas dirigidas aos
nossos projectos. A crítica da crítica.
Um
programa científico para a autocrítica exige dos seus responsáveis
um compromisso, consensual e inquestionável, com os fundamentos,
objectivos, métodos e alcance de um projecto. Todos os desvios podem
ter sérias consequências. Não se aceita qualquer cumplicidade com
a ineficiência. Um tal programa, frequentemente esquecido no
desenvolvimento de projectos, pode bem ser uma ferramenta formidável
para alcançar êxitos fundamentais, mas não é uma sua garantia
absoluta. É necessário recordar sempre que os êxitos dependem não
só dos programas e factores como o acaso ou a moral da luta, que são
indispensáveis e inevitáveis, têm zonas dificilmente
quantificáveis mas não impossíveis de medir.
Um
programa científico para a autocrítica requer consenso nas suas
bases e nos seus passos. De pouco serve uma autocrítica unilateral e
solipsista. Requere definição precisa do “erro”, de seus
antecedentes, do seu desenvolvimento e das suas consequências.
Requere uma descrição detalhada e consensual sobre, e com, os
envolvidos… valorização exacta dos custos e dos tempos,
explicação precisa do “custo” afectivo ou moral e definição
meticulosa de prazos e recursos com que será reparado o “erro” e
um plano concreto para se obter a concordância dos envolvidos. A
acção directa.
A
autocrítica científica não é uma dádiva, nem uma concessão,
filhas da “boa fé” ou de certas culpas funcionais. Trata-se de
um salto qualitativo da consciência na práctica e trata-se de um
compromisso profundo com a dialéctica dos projectos e do seu êxito,
colectivo e consensual. É uma ferramenta necessária para socializar
os erros e convertê-los em forças. É uma ferramenta poderosa para
separar o tratamento dos erros de qualquer campo abstracto para os
elevar ao terreno do concreto, à vista de todos, e com o benefício
da corresponsabilidade nas soluções. Não é um reduto ou emboscada
para dar as boas vindas aos erros, é uma arma para lhes dar
categoría de sujeitos de conflito na dinâmica da transformação
social e, a partir daí, saber definir o seu lugar na luta de classes
que é o seu marco permanente de referência. A dialéctica.
Por
isso todos necessitamos da autocrítica como ferramenta para a luta,
para o trabalho e para a vida quotidiana. Como ferramenta social para
a nossa militância, para sermos melhores lutadores sociais,
melhores pessoas, melhores exemplos no que nos corresponda ser
responsáveis para a transformação do mundo e a emancipação da
humanidade. Para superar o capitalismo sem cometer erros e, se
«metemos a pata na poça», corrigi-los correctamente e
de imediato. Em colectivo. Dentro e fora, do macro ao micro.
Dr.
Fernando Buen Abad Domínguez
Universidad
de la Filosofía
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