Do Jornal i –
entrevista a Pacheco Pereira - 31/10/2015
(extrato)
- Mas
fala da comunicação social sempre como se fosse uma entidade independente, sem
laços sociais.
Não
acho que seja uma entidade independente, pelo contrário, estou a enunciar as
suas dependências, mas acho que é uma instância que não pode ser reduzida ao
determinismo económico e político. É uma instância com autonomia, e essa
autonomia não é toda boa, parte dela é corporativa: são as ideias circulantes
da classe e o seu corporativismo e comportamento de rebanho, que diminui o seu
pluralismo. É uma comunicação social muito moldada por uma aproximação ao
político, que é em grande parte a que gerou Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo é
o grande educador do jornalismo político, e deu-lhe a base interpretativa: os
cenários, uma atenção ao calendário, os factos políticos, a que o Portas
acrescentou as frases assassinas e os sound bites. E uma parte dos jornalistas
formou-se nessa escola dupla: a do “Independente” e a do “Expresso”. E isso faz
com que tenham uma aproximação muito pouco criativa e reagem muito mal às
mudanças. Sempre me recusei a fazer cenários sobre estas eleições, dizendo que
depois das eleições tudo muda tudo. Nós na história sabemos que o principal
elemento dela é a surpresa, e estamos fartos de ter surpresas: o Estado
Islâmico é uma surpresa, a Grécia não estava inscrito nem como começou nem como
acabou. Há muita coisa nova, e que altera as regras de jogo. A elite
jornalística, sobretudo a que faz opinião, que é muito próxima das direcções e
dos donos e dos seus interesses, tem tendência a não se querer desdizer a si
própria. E como nos últimos quatro anos muita gente alinhou no “é inevitável a
austeridade”, “não há alternativa” e num discurso catastrofista, perante a
possível alternância não podem perder a face. Isso aliado a uma enorme
ignorância dá coisas como dizer
que vamos regressar ao PREC e jornais que dizem barbaridades como quem manda em
Portugal é o PCP. É de doidos.
- Como interpreta esta quase histeria quanto a um possível governo com apoio do PCP e do BE?
- Como interpreta esta quase histeria quanto a um possível governo com apoio do PCP e do BE?
Há um mito
deste governo e o programa da esquerda. O que pode haver com um governo de
António Costa é o que se chamava antigamente um programa mínimo. O programa
máximo do PCP e do BE é a revolução: é mudar as relações económicas e sociais.
Mas um acordo mínimo pode ser muito importante. Significa dar àqueles que
nestes últimos anos sofreram uma folga considerável, e isso tem um valor
político, podem sempre dizer fomos nós que conseguimos isso no meio de grandes
dificuldades. Vejo às vezes comentadores dizerem que o PC vai perder a sua
força na CGTP, esquecendo que há um aspecto importante na força das
instituições que é aquilo que os americanos chama “deliver”, quer dizer, dar
resultados. É um facto que, nestas circunstâncias difíceis, se não houvesse
sindicatos isto seria muito pior. Estamos num período de grande mudança, como
diz aquele provérbio atribuído aos chineses que na realidade é inglês, “que
vivas tempos interessantes”, que é uma maldição e portanto exige homens e
mulheres grandes.
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