Fake news
As notícias falsas, ou fake news,
entraram no discurso dos media e dos que em sua volta gravitam. De
repente, de há meio ano para cá, todos – de comentadoras a quem controla o
acesso à informação, como a Google ou o Facebook – traçaram o combate às fake
news como um desígnio civilizacional, ignorando que a questão reside na
submissão à voz e aos interesses do patrão. É que, como veremos, as notícias
falsas têm o berço e viveiro nas direcções dos principais meios de comunicação
social.
Exemplo disso foi a forma como a
entrevista de Arménio Carlos a um jornal e a uma rádio, ou mais exactamente, parte
de uma das resposta, foi treslida, mal reproduzida e manipulada na véspera do
1.º de Maio. Depois da pergunta, várias vezes repetida, se uma greve geral é
«admitida» ou «está prevista pela CGTP-IN», com uma detalhada resposta pelo
meio, ambos os órgãos descobriram as palavras que lhes permitiam cozinhar o
título, aparentemente cozinhado previamente: «CGTP abre portas a uma greve
geral».
Acontece que as entrevistas gravadas
têm a vantagem para quem as ouve de poder confirmar os destaques que delas se
fazem. Vejamos então as palavras exactas: «Todas as hipóteses estão em cima da
mesa, nenhuma é excluída. Agora, dependerá também da vontade do Governo a
solução atempada dos problemas.»
Levado o título à prova dos factos
sai bastante chamuscado. O «abrir portas» afinal foi a afirmação que qualquer
trabalhador esperaria da parte da CGTP-IN, ou seja, nenhuma forma de luta está
excluída à partida. O que não é o mesmo que «ameaçar», como se lia numa
revista, «pode avançar», como outro jornal citava, ou «admite» de acordo com um
outro meio online.
Tudo isto se passou com duas
agravantes ao caso: a primeira, e capital para quem quer dar combate às fake
news, é que o Secretário-geral da CGTP-IN nem sequer falou em qualquer
greve geral na entrevista; a segunda, reveladora da intenção e alvo do truque,
foi fazê-lo um dia antes da grande jornada de mobilização dos trabalhadores do
1.º de Maio.
Inventando uma afirmação que não
existiu, a máquina mediática conseguiu torná-la no tema central do 1.º de Maio,
reduzindo tudo o que foi dito e anunciado nas acções desse dia numa nota de
rodapé face ao tema fabricado numa qualquer central de informação, desde logo
as acções agendadas para 3 de Junho e as numerosas e intensas lutas que, nos
sectores público e privado, se têm desenvolvido nos últimos meses.
Uma entrevista deve ser a
reprodução, com verdade, do que o entrevistado disse. Ao contrário, a opção foi
por forçar uma resposta que, ainda assim não condizendo com a tese, foi
martelada até permitir criar um «facto alternativo», à medida de uma qualquer
agenda mediática. De seguida, prolongaram o tempo de vida da notícia ao
procurar reacções dos partidos presentes nas comemorações do 1.º de Maio e
fazendo títulos de um recuo da central sindical face à intenção… que os
próprios inventaram.
Será que até já a mentira tem industria?
ResponderEliminarOu
Será que é a industria que utiliza, cada vez mais, a mentira?