Desculpem, mas a coisa funciona assim!
É sabido que o alinhamento das principais notícias
sobre a situação internacional nos principais órgãos de comunicação social há
muito que deixou de corresponder a uma procura séria e rigorosa da informação.
Seja nas televisões, seja nos jornais, seja também nas chamadas redes sociais
na internet – onde é reproduzido no essencial o conteúdo veiculado pelos media –
os elementos informativos multiplicam-se à escala planetária com uma força tal
que as mesmas notícias, as mesmas imagens, os mesmos depoimentos, os mesmos
protagonistas, as mesmas fontes, as mesmas organizações citadas, os mesmos
«factos», são tratados de igual maneira, seja em Portugal, nos EUA, no Brasil, na
Austrália, etc.
Falar-se de uma grande central de propaganda é pouco, pois aquilo a que
assistimos, de uma forma cada vez mais impressiva e refinada, são a
poderosíssimos meios de manipulação ideológica capazes de transformar as
vítimas em carrascos, os agressores em ofendidos, os ladrões em espoliados. De
pouco servem exemplos históricos não muito distantes, como a manipulação que
foi usada para “legitimar” a agressão dos EUA ao Iraque, com as chamadas provas
irrefutáveis da existência de armas de destruição maciça que afinal se
confirmou não passarem de um pretexto para o início da guerra. Para trás
ficaram centenas de milhar de mortos, um país destruído e um povo em sofrimento
a quem as televisões do império tratam agora com esquecimento. Tal como se esqueceram
dos povos da Líbia, do Afeganistão ou da Palestina, cuja situação actual não
constitui nem factor de indignação, nem sequer uma presença, ou menos discreta,
nos alinhamentos noticiosos.
Notícias como as da utilização de armas químicas pela Síria contra o seu
próprio povo, como a criação de campos de concentração para homosexuais na
Rússia, como a ameaça de um ataque à Coreia do Norte aos EUA, surgem e
difundem-se, muitas vezes sem qualquer preocupação de confirmar a sua
veracidade, sem contraditório, apenas com intuito de criar um ambiente
favorável a objectivos sinistros e a isolar as forças progressistas e
revolucionárias que lutam pela paz. É preciso estar atento e não ir na onda.
Vasco Cardoso
Avante, N.º 2265 27 de Abril.2017
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