Porque este blogue dá especial
atenção aos media, reproduzimos extratos
de “Rede de Propaganda” editado pelo ODiario.info (aqui)
Rede de Propaganda
Dois úteis artigos recordando a actividade
da CIA, praticamente desde a sua fundação, na manipulação da informação nos
EUA, nomeadamente através da inclusão de jornalistas e editores nas suas folhas
de pagamento. Não será de modo nenhum especulativo afirmar que essa manipulação
se ampliou à escala global, e não admira que o mesmo suceda com as folhas de
pagamento. Não é isso, afinal, que se sente quando se lêem ou ouvem certos
jornalistas e comentadores no nosso país?
«… breve resenha histórica de como,
no auge da Guerra Fria, a CIA criou o seu próprio elenco de escritores,
editores e publicistas (que cresceu a ponto de incluir 3000 indivíduos) que
pagava para rabiscarem propaganda da agência no quadro de um programa chamado
Operação Mockingbird. Essa rede de desinformação era supervisionada pelo
falecido Philip Graham, anterior editor do próprio jornal de Timberg, o
Washington Post.»
«A CIA tem tido jornalistas na sua
folha de pagamentos praticamente desde a sua fundação em 1947, facto
estridentemente reconhecido pela própria Agência quando em 1976 - altura em que
G.H.W. Bush assumiu a sua direcção sucedendo a William Colby – anunciou que “a
partir deste momento a CIA não assumirá qualquer relação remunerada ou
contratual com qualquer correspondente jornalístico, a tempo parcial ou a tempo
inteiro, acreditado em qualquer serviço noticioso dos EUA, jornal, periódico,
radio, rede ou estação de televisão”.
Embora esse anuncio destacasse que a
CIA continuaria a “acolher com simpatia” a cooperação voluntária, gratuita, de
jornalistas, não há qualquer razão para acreditar que a Agência cessou
efectivamente os pagamentos por baixo da mesa ao Quarto Poder.
A sua prática anterior a 1976 nesta
matéria está de algum modo documentada. Em 1977 Carl Bernstein abordou o tema
na Rolling Stone, concluindo que mais de 400 jornalistas tinham mantido algum
tipo de associação com a Agência entre 1956 e 1972.
Em 1997 o filho de um conhecido alto
responsável da CIA nos seus primeiros tempos afirmou enfaticamente - embora off
the record – a um membro de CounterPunch que o poderoso e malévolo colunista
Joseph Alsop estava, “evidentemente, na folha de pagamentos”.
A manipulação da imprensa foi sempre
uma preocupação emblemática para a CIA, tal como para o Pentágono. No seu
Secret History of the CIA publicado em 2001, Joe Trento descreveu como em 1948
o agente da CIA Frank Wisner foi nomeado director do Gabinete de Projectos
Especiais, em breve renomeado Gabinete de Coordenação de Políticas (Office of
Policy Coordination - OPC). Este tornou-se o ramo de espionagem e
contra-informação da CIA, e em primeiro lugar na lista de funções que lhe foram
atribuídas estava “propaganda”.
Mais tarde no mesmo ano Wisner
montou uma operação com o nome de código “Mockingbird” visando influenciar a
imprensa doméstica norte-americana. Recrutou Philip Graham do Washington
Post para gerir o projecto a partir do interior dessa indústria. Trento
escreve que “Um dos mais importantes jornalistas sob o controlo da Operação Mockingbird era
Joseph Alsop, cujos artigos eram publicados em mais de 300 jornais.” Outros jornalistas dispostos a
promover os pontos de vista da CIA incluíam Stewart Alsop (New York Herald
Tribune), Ben Bradlee (Newsweek), James Reston (New York Times), Charles
Douglas Jackson (Time Magazine), Walter Pincus (Washington Post), William C.
Baggs (Miami News), Herb Gold (Miami News) and Charles Bartlett (Chattanooga
Times).
Por alturas de 1953 a Operação
Mockingbird tinha influência preponderante sobre 25 jornais e agências de
notícias, incluindo New York Times, Time, CBS, Time. As operações de
Wisner eram financiadas pela transferência de fundos destinados ao Plano
Marshall. Algum deste dinheiro era utilizado para subornar jornalistas e
editores.“
No seu livro Mockingbird: The
Subversion of the Free Press by the CIA, Alex Constantine escreve que nos
anos 50s, “uns 3,000 empregados assalariados ou contratados pela CIA estavam de
algum modo empenhados em tarefas de propaganda”.»
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