“A Internet é perigosa para o
ignorante.”
“O livro ainda é o meio ideal para aprender.
Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. (…) Acho que os
tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para
entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas
páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.”
“A Internet não seleciona a
informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um mau serviço ao internauta.
Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os
erros e absurdos. A Internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge
lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta
de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação em demasia
faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com os
animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e
líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos
dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só
citam a sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe
sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o
que for. Hoje, na Internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância.
Ora, isso não é conhecimento.”
“Se você sabe que sites e bancos
de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e
eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a Internet do que
aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse
sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação
de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A Internet é perigosa
para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já
conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado
pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a Internet
para as mais variadas inutilidades: jogos, conversas online e busca de notícias
irrelevantes.”
“[Há uma solução para o excesso
de informação?] Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina
prática, baseada na experimentação quotidiana com a Internet. Fica aí uma
sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de
filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.”
“As redes sociais deram o direito
à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de
uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles
para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um
vencedor do Prémio Nobel.”
“O problema da Internet é que
produz muito ruído, pois há muita gente a falar ao mesmo tempo. Faz-me lembrar
quando na ópera italiana é necessário imitar o ruído da multidão e o que todos
pronunciam é a palavra ‘rabarbaro’. Porque imita esse som quando todos repetem
‘rabarbaro rabarbaro rabarbaro’, e o ruído crescente da informação faz correr o
risco de se fazer ‘rabarbaro’ sobre os acontecimentos no mundo.”
“Populismo mediático significa
apelar diretamente à população através dos meios de comunicação. Um político
que domina bem o uso dos meios de comunicação pode moldar os temas políticos
fora do parlamento e, até, eliminar a mediação do parlamento.”
Fontes:
“Época” (Brasil), “Diário de Notícias” (Portugal) e “The New York Times”
(Estados Unidos)
Todos os instrumentos poderosos,
ResponderEliminarnas mãos de ignorantes, são perigosos.
Não conhecia este texto de Umberto Eco, mas ele contém, também, conceitos perigosos. Um exemplo? " Conhecer é filtrar"!
Em alguns países, como o Brasil, existe uma blogosfera poderosa que contraria o 4º poder dos média institucionais da "Veja", da "Globo" do "Estadão" e outros... Por cá, também vão acontecendo coisas. O site do Eugénio Rosa, o Jornal Tornado, e a CRITICA - Económica e Social, uma revista cuja difusão é basicamente via net...