TEMPO
DE FORMAÇÃO
Fernando Buen Abad Domínguez
Rebelión / Universidad de la Filosofia
Fernando Buen Abad Domínguez
Rebelión / Universidad de la Filosofia
(tradução
de Guilherme da Fonseca-Statter)
Tal como deve ser (ainda que nem sempre tenha sido assim) as universidades públicas devem dar prioridade à intervenção comunitária e a valorização honesta da produção social do saber, com soluções, em todas as instâncias sociais de base. Especialmente quando se trata de formar líderes com o claro intuito de assegurar que os povos se assegurem a si mesmos da consistência teórica e prática daqueles que comandarão obedecendo. É o que acontece na Universidade Nacional de Lanús, dirigida por Nerio Neirotti no programa FORMARNOS (Formação de Quadros em Gestão Pública e Social)1.
É
já um «lugar comum», no qual se deleitam muitas incapacidades e
ineficiências, exigir a criação de «escolas de quadros», como
uma fórmula mágica para conjurar fraquezas perante as tarefas que a
dinâmica histórica vem constantemente exigindo.
O
programa FORMARNOS parece uma resposta fundamental que revela que não
se pode pôr em marcha uma formação de lideranças se não houver
vontade de fazer da vida em colectivo um sentir e um significado tão
profundos como a própria humanidade com os seus melhores valores
sociais. Não se podem fabricar as condições em que emergem
os líderes, mas devem-se promover as competências e sensibilidades
com que hão-de servir os novos líderes. Para isso temos
formar-nos.
Este
projecto FORMARNOS vai em busca
de um diálogo entre a vocação, as necessidades históricas e o
imaginário que quer um mundo onde prevaleça a justiça social, onde
impere um acordo democrático para a acção permanente e em que seja
possível partilhar esses sonhos que sonhamos quando se quer um
planeta com felicidade e sem amos. É uma quixotada do
concreto, funcionando operacionalmente ao longo de seis meses, para
que se fique habilitado no exercício de abrir asas e planear voos de
dignidade dirigidos ao presente e ao futuro. Todos podem entrar, não
há requisitos de graus académicos e tem as portas abertas a
organizações comunitárias, cooperativas, empresas culturais,
organizações políticas, funcionários públicos e agências do
Estado, a nível provincial, nacional, municipal... que tenham a
vontade e a responsabilidade de se envolverem na sua formação
política e na acção directa e imediata. É pago com os impostos
pagos pelo povo argentino e desenvolve-se em aulas presenciais e
virtuais.
FORMARNOS
é um exemplo de acção concreta professada como práxis que
sintetiza o objectivo e o subjectivo de um método revolucionário relevante que consiste em intervir sobre os problemas. Isso é parte
da luta, e por isso é exemplar - e inesquecível - essa práctica
que envolve vínculos afectivos, intelectuais e de luta, numa relação
de fraternidade e de solidariedade, necessárias e urgentes nesta
hora. Aprender para agir.
Com
esta iniciativa, que nasceu de necessidades sociais concretas e não
de iluminismos elitistas, todos contam com um espaço para ter acesso
a conceitos e métodos organizacionais de que os povos se apropriam
na luta pela sua liberdade política, contra a exploração e o
saque, a barbárie, a miséria e a alienação. Um exemplo e um
mandato universitário que se identifica com uma moral de luta e
triunfo indispensáveis quando é necessário ser útil nos caminhos
da igualdade, integração, e unidade em que «a Pátria é o Outro»
nos seus valores filosóficos mais profundos.
FORMARNOS
é um caminho que articula o seu compromisso com a emancipação dos
explorados determinados a emanciparem-se de forma organizada, a
partir de baixo e com formação pertinente e adequada nas horas
críticas de um mundo em ebulição e com vontades de mudança por
todo o lado. Entre as muitas lições ensinadas no FORMARNOS
está a de dilatar o direito de alegria inteligente com as mil
maneiras de viver – diariamente - e saborear os seus métodos de
aplicação concreta e de classe. Nas mãos de quem estuda no
FORMARNOS está uma filosofia
da práxis que se converte em alegria e dignidade, geradas de serem
contagiosas. Eu vi-os a celebrar os seus resultados.
O
trabalho do FORMARNOS, pleno de
sorrisos e satisfações extraordinárias, é uma atitude perante a
vida e perante os seres humanos, perante as relações sociais e os
métodos para emancipação em crescimento pleno. Trabalha-se para
intervir na unidade indissolúvel com uma vocação científica
empenhada em resolver os problemas dos povos com os meios e métodos
de melhorar as condições de existência. Por isso, tem a sua
vigência, porque se luta para aumentar a consciencialização, para
elevar o nível do debate, para elevar as condições de vida e
elevar os padrões de felicidade social. Aqui e agora, todos os dias,
com a razão e prática, com inteligência e paixão... com el
amor loco e a paixão revolucionária.
Temos
de «dar de beber» e aprender do FORMARNOS
que é, também, uma florescência baseada no desenvolvimento de
talentos em pleno exercício dos melhores debates da razão, para ser
revolucionário na busca da plenitude social. Quase não há problema
científico, político ou metodológico que não se resolva com
prazer e com base numa identificação, não condescendente, com uma
intervenção na teoria e na prática.
FORMARNOS
ajuda a não nos deixarmos levar pela indiferença ou pelo
individualismo, ajuda-nos a ser receber a energia do instinto dos
povos que recuperam a política com dignidade, para fazer revoluções
e para nos formar entre afectos, ideias e tarefas em cima da luta
política.
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