Preparem-se: vem aí uma campanha
violenta
15 de August de 2015 – Expresso curto
. (Nicolau Santos)
Esta campanha joga-se, em grande
parte, nas redes sociais, onde «um pequeníssimo número de pessoas faz uma
‘opinião’ entre anónimos, nomes falsos e empregados de agências de
comunicação». Por outras palavras, a tropa de choque que conduz o combate
político sujo é constituída por cobardes que a coberto do anonimato insultam,
deturpam, ameaçam todos os que de uma ou outra maneira contestam o poder
instalado – ou conseguem mesmo clonar telemóveis e computadores, através da
cloud, para tentar calar os que resistem.
Preparem-se: vem aí uma campanha
violenta
Preparem-se: o que aí vem não é «Uma campanha
alegre», como a que Eça de Queirós descreveu, utilizando um humor
sarcástico e contundente para criticar a vida social e política do seu tempo. O
que se perfila no horizonte não tem um pingo de humor, é sórdido e está cheio
de golpes baixos. Como escreve José Pacheco Pereira na edição da Sábado
desta semana, «estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não
serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver».
O campo escolhido não é o terreno aberto nem a arma é
o confronto sério de posições. Esta campanha joga-se, em grande parte, nas
redes sociais, onde «um pequeníssimo número de pessoas faz uma ‘opinião’
entre anónimos, nomes falsos e empregados de agências de comunicação». Por
outras palavras, a tropa de choque que conduz o combate político sujo é
constituída por cobardes que a coberto do anonimato insultam, deturpam, ameaçam
todos os que de uma ou outra maneira contestam o poder instalado – ou conseguem
mesmo clonar telemóveis e computadores, através da cloud, para tentar calar os
que resistem.
Nada de novo: em 21 de novembro de 2013, em
entrevista à Visão, Fernando
Moreira de Sá, consultor de comunicação, explicava como a utilização das
redes sociais tinha sido fundamental para levar Passos Coelho até à liderança
do PSD, condicionando Paulo Rangel e mantendo na corrida Aguiar-Branco,
porque dava jeito, não sem antes terem desgastado a liderança de Manuela
Ferreira Leite. Depois partiram para o ataque ao governo de José Sócrates,
utilizando os mesmos métodos e influenciando, através da manipulação das
redes sociais, os comentadores nas rádios, nas televisões e os jornais.
Ora Passos chegou há quatro anos ao poder. Se os que o
apoiam já sabiam do poder das redes sociais nessa altura, não lhe devem ter
perdido o jeito desde então e provavelmente estão mais sofisticados, dominam
melhor as técnicas de manipulação e são mais certeiros e eficazes nos alvos a
abater. A polémica em torno dos cartazes do PS, para lá do amadorismo e incompetência
de quem os produziu, nasceu precisamente nas redes sociais, até chegar aos
órgãos de comunicação «sérios». E esta é outra conclusão a retirar: o
jornalismo, que cumpre as regras deontológicas da profissão, está cada vez mais
refém das redes sociais, que não as cumprem de todo, porque não só não têm
de as cumprir como de todo não têm regras. É o vale tudo para destruir os
adversários e manter o poder.
É claro que os cartazes da maioria também foram
alvo de escrutínio e chegou-se à conclusão que já
estavam na rua quando finalmente chegou a licença que permite a utilização para fins
políticos dos figurantes nos cartazes, segundo a Shutterstock, empresa à qual
as imagens foram compradas.
Nicolau Santos – Expresso Curto – 13 agosto 2015
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