Perseu Abramo
Os padrões da manipulação
1 - Padrão de
Ocultação - É o padrão que se refere à ausência e à presença dos fatos reais na
produção da Imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento,
e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado
silêncio militante sobre determinados fatos da realidade. Esse é um padrão que
opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação. Isto é, no
"momento" das decisões de planejamento da edição, da programação ou
da matéria particular daquilo que na Imprensa geralmente se chama de pauta.
A ocultação do real está intimamente
ligada àquilo que freqüentemente se chama de fato jornalístico. A concepção
predominante - mesmo quando não explícita - entre empresários e empregados de
órgãos de comunicação sobre o tema é a de que existem fatos jornalísticos e
fatos não-jornalísticos. E que, portanto, à Imprensa cabe cobrir e expor os
fatos jornalísticos e deixar de lado os não-jornalísticos. Evidentemente, essa
concepção acaba por funcionar, na prática, como uma racionalização a posteriori
do padrão de ocultação, na manipulação do real.
Ora, o mundo real não se divide em
fatos jornalísticos e não-jornalísticos, pela primária razão de que as
características jornalísticas, quaisquer que elas sejam, não residem no objeto
da observação, e sim no sujeito observador e na relação que este estabelece com
aquele. O "jornalístico" não é uma característica intrínseca do real
em si, mas da relação que o jornalista - ou melhor, o órgão do jornalismo, a
Imprensa - decide estabelecer com a realidade. Nesse sentido, todos os fatos,
toda a realidade pode ser jornalística, e o que vai tornar jornalístico um fato
independe das suas características reais intrínsecas, mas sim das
características do órgão de imprensa, da sua visão de mundo, da sua linha
editorial, do seu "projeto", enfim, como se diz hoje.
Por isso é que o Padrão de Ocultação
é decisivo e definitivo na manipulação da realidade: tomada a decisão de que um
fato "não é jornalístico", não há a menor chance de que o leitor tome
conhecimento de sua existência, através da Imprensa. O fato real foi eliminado
da realidade, ele não existe. O fato real ausente deixa de ser real para se
transformar em imaginário. E o fato presente na produção jornalística, real ou
ficcional, passa a tomar o lugar do fato real, e a compor, assim, uma realidade
diferente da real, artificial, criada pela imprensa.
(Próximo post - Padrão de Fragmentação
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