Os rankings e a manipulação
Na última semana foram várias as
notícias que, a propósito da passagem do primeiro mês sobre o reatar dos
trabalhos parlamentares, fizeram um primeiro balanço estatístico da
produtividade dos deputados recém-empossados. Tendo em conta a fixação habitual
com os rankings, seria de esperar que a notícia fosse exactamente quem
apresentou mais iniciativas. Talvez por esse registo caber ao PCP, os destaques
foram diversos e particularmente dirigidos para os números (nalguns casos muito
embaraçosos de tão escassos) dos deputados únicos.
Mas, apesar desse interesse pelos
números, alguns dos nossos media não olharam para o que eles levavam
dentro: para o conteúdo das propostas que os compunham. Uma opção que não explica
a forma ostensiva como os mesmos que não gastaram uma linha ou um minuto para a
proposta do PCP para a reposição da idade da reforma nos 65 anos (apresentada
na Assembleia da República a 28 de Outubro), dessem amplíssimo espaço a um
anúncio de intenções de outro partido: vão apresentar uma proposta idêntica.
Mas não se ficando por aí, na generalidade dos casos não fizeram o que se exige
a um exercício de jornalismo sério: no mínimo, a referência à única proposta
sobre a matéria que, até ao momento da publicação dessas notícias, estava de
facto entregue na AR – a do PCP.
Este é um episódio que retrata bem
um dos mecanismos da ofensiva mediática contra o PCP. Ao mesmo tempo que
jornais, rádios e televisões ocultam as propostas e os posicionamentos do PCP,
promovem descaradamente iniciativas de outros sobre os mesmos temas.
Desde o início da legislatura, já
deram entrada na Assembleia da República dezenas de iniciativas, mas nenhuma
teve tanta exposição mediática como uma outra que ainda nem foi formalmente
apresentada: a redução do IVA na energia para a taxa mínima. Mas, até neste
caso, o tratamento mediático desta proposta de há anos do PCP – tantos anos
quantos os que passaram desde que o PSD e o CDS impuseram o aumento, em 2011 –
é coberta de termos depreciativos (como as coligações negativas) e destacada a
partir da acção de outros, como se a iniciativa do PCP se submetesse a ameaças
de posicionamento do PSD (que não só protagonizou o aumento do IVA como
entretanto já inviabilizou propostas de redução apresentadas pelo PCP). Aqui
está um outro truque para desvalorizar as soluções do PCP para o País e as
apresentar de forma subalterna.
Tudo isto se passou num quadro
mediático repleto de espaço por encher, pelo menos a julgar pelos principais
órgãos de comunicação social nacional. Foi preciso ocupar horas de noticiários
e páginas de jornais com as aventuras e desventuras de uma deputada e do seu
assessor, com imagens e directos de Londres, mesmo enquanto pouco se sabia
sobre o que lá se tinha passado (e, portanto, pouco havia a dizer), ou até das
5 horas de viagem marítima entre a barra de Cascais e a doca de Alcântara de um
barco onde, por muito mediática que fossem os ocupantes, nada se passava. Houve
tempo para tudo isto, mas não para as soluções do PCP para o País.
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