O método
O
método nada tem de científico, mas resulta quase sempre: quando se
quiser formar uma opinião acerca do que se passa em alguma parte do
mundo basta ver o que dizem as televisões portuguesas… e concluir
exactamente o contrário.
Este
método (não sustentado na ciência, insista-se) teria sido útil a muitos
nesse já distante ano de 1999, quando as nossas tv’s apresentaram o
UCK, do Kosovo, como baluarte da democracia, muito embora os seus
líderes estivessem, como ainda estão, envolvidos em práticas –
certamente democráticas – como o tráfico de seres humanos. O tratamento
do conflito balcânico foi tudo menos «noticioso». Os sérvios foram
diabolizados e todos os outros pintados de tons coloridos: os croatas,
responsáveis pela limpeza étnica da Krajina; os bósnios, entre os quais
pontificavam fundamentalistas islâmicos que fizeram ali o seu baptismo de fogo; os já referidos kosovares albaneses, cujos chefes eram vulgares criminosos.
O
mesmo sucedeu em 2003, quando nos «mostraram» as armas de destruição
massiva que justificariam a invasão do Iraque, e que até hoje ninguém
conseguiu encontrar. E, também, em 2011, quando replicaram acriticamente
«informações» que davam como certa a ocorrência de «massacres» na Líbia
e na Síria, que abriram caminho à agressão imperialista a esses países.
Ou, mais recentemente, quando acharam normal um tipo autoproclamar-se
presidente da Venezuela e, em entrevistas, tratarem-no como tal, e não
consideraram notícia o bloqueio norte-americano, o roubo de fundos, os
obstáculos ao comércio…
Se
o que é dito conta, os silêncios também têm significado. Assim, não só
os temas atrás mencionados desapareceram «do ar» de um momento para o
outro – quando só haveria para mostrar a destruição causada pela
intervenção externa, militar ou económica – como outros nunca (ou quase)
tiveram tempo de antena. Quem já viu nas nossas televisões a revolta do
povo haitiano? Quantas peças já foram transmitidas sobre o levantamento
popular no Chile e as suas reais razões? E alguma delas se referiu à
violentíssima repressão, em muitos casos a fazer lembrar os tempos de
Pinochet? Algum canal português mostrou a devastação social provocada
pelas políticas neoliberais de Macri, Piñera ou Moreno?
As
grandes cadeias de «informação», altamente concentradas e detidas por
alguns dos maiores grupos económicos do planeta, determinam do que se
fala e como se fala em praticamente todo o mundo. São, hoje, mais um
braço das forças armadas do imperialismo, e o primeiro a entrar em
combate. Preparado o terreno – que neste caso somos nós, espectadores –
avançam depois o Exército, a Marinha, a Força Aérea, o FMI, o que for…
A luta de classes trava-se também neste campo
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