O fio comum das notícias da comunicação social a propósito de fissuras -detectadas na Ponte 25 de Abril em operações de manutenção é:
-A ponte está em riscos de cair!
-O governo só após a notícia a sair numa revista desbloqueou as verbas para a reparar.
De facto, após o alarme que vende, começou a vir à superfície parte da verdade menos comercial: as fissuras estão detetadas há seis anos, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil garante que a ponte está condições de utilização segura, não caiu e não cairá; o governo comunica que o processo de libertação de verbas decorreu dentro dos prazos normais para um caso que não exigia medidas urgentes. E que até se pode dar o caso de a revista anunciar a notícia porque soube que o governo desbloqueara as verbas e não o contrário, como os jornalistas quiseram fazer crer, para se apropriarem de louros que não tiveram…
A comunicação social lançou o alarme, atacou o governo e vendeu o produto. Podia ser só assim que já não era sério. A comunicação social não é um lançador de alarmes falsos, um acelerador de pânico, nem um instrumento de manipulação política. Ou é. É.
O tratamento dado “à ponte que vai cair e o governo não a agarra” é ainda mais chocante, porque havia e há o que verdadeiramente é importante no caso e que a comunicação social deixou cair. Não caiu a ponte, mas caiu a máscara dos jornalistas. Em vez de uma explicação, gritam.
A notícia de necessidade de operações de manutenção da ponte levanta questões que os jornalistas deitaram fora, com os rebites que caíram:
Não se lembraram de alertar os consumidores da sua informação que:
- apesar de as duas pontes sobre o Tejo na zona de Lisboa estarem concessionadas a uma empresa privada (Lusoponte), é o governo que surge como responsável pela manutenção e são os contribuintes que, além de pagarem as portagens, pagam a manutenção. Os jornalistas, em vez da ponte, deixaram cair as responsabilidades dos políticos que concessionarem (privatizaram) as pontes;
- a notícia de que a ponte vai cair, levanta (levantaria se os jornalistas levantassem os olhos) a questão: e se cai mesmo? E se a Vasco da Gama também cai? Ficamos a saber que as entradas terrestres pela margem sul do Tejo estão na mão de concessionários que recebem as portagens e não as mantêm! — os jornalistas também deixaram cair esta notícia.
- mas desconfiamos (um jornalista devia desconfiar) que o contrato de concessão dos aeroportos — da ANA a uma empresa francesa — deve ser do mesmo tipo. A concessionária recebe as rendas e os contribuintes pagam para os aviões aterrarem e descolarem. Outro belo negócio. Os jornalistas interessaram-se por saber quem paga se os aeroportos deixarem de poder operar?
- nas entradas por auto-estrada com as concessões deve passar-se o mesmo. Num dado momento descobrem-se umas fissuras e a Brisa e as Autoestradas do Atlântico chamam os jornalistas para lhes dizer que a responsabilidade é do governo. Os jornalistas abanam as orelhas e correm a escrever títulos garrafais: as pontes caem, os aeroportos fecharam à operação, as auto-estradas estão intransitáveis. A capital do país está isolada. O governo nada faz. Esquecer-se-ão de quem entregou infraestruturas estratégicas à sempre bem-vinda iniciativa privada e que, no fim, serão os contribuintes a pagar, porque as concessionárias se limitam a receber as rendas e portagens.
- às pontes concessionadas, aeroportos e auto-estradas, podemos adicionar as barragens, as centrais elétricas, as redes de distribuição de energia, as redes de telecomunicações, os correios. Tudo concessionado. Quando abrirem fissuras, o contribuinte paga e os jornalistas lá estarão a fazer-nos olhar para o governo, para que este nos vá ao bolso. Os políticos concessionadores estarão nos conselhos de administração, ou a gozar dos rendimentos.
A comunicação social concessionada e comissionada garante: é o governo.
Onde estão os outros?
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