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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Semiótica das Notícias Burguesas / Fernando Buen



Semiótica das Notícias Burguesas

A semiótica não é um campo indemne na disputa do sentido

Isso a que chamam “noticiadores” (nas máquinas de guerra ideológica chamadas “mass media”) são unidades de combate na disputa semiótica que o capitalismo impõe para deformar e manipular a realidade, o seu conhecimento e a sua expressão. A garantia do êxito reside na lógica dos monopólios e na repetição – ad nauseum – do arremesso da estultícia refinada com escória ideológica. Silenciar todos para impor uma só voz. Formatar cérebros com moldes de mansidão. Quer o inimigo de classe manter-nos bem informados? Para quê? De acordo com quem?
No entanto dá trabalho (a não poucos) aceitar que vivemos sob os projeteis ideológicos de uma guerra mediática, incessante e multifacetada, aberta de “par em par” para nos fazer aceitar sem contestação, o mundo tal qual nos impõem… para nos obrigar a financiar os seus instrumentos de mentiras e aceitá-los com aplausos e a submissão da própria alma. Ainda que seja verdade que os destinatários não sejam “robô” que aceita linearmente todo o lixo que lhe impõem, é também verdade que a mentalidade dos povos está sequestrada entre jaulas de falácias monopólicas de onde o pensamento crítico é perseguido, satanizado e ridicularizado. É, tal qual uma guerra assimétrica. E certamente não se ignora que as massas estão também fermentando a sua emancipação informativa. Não aceitar que se trata de uma Guerra condena-nos à ignomínia e ao silêncio.
Dito de outro modo, a complexidade semiótica das notícias burguesas radica na sofisticação ideológica e tecnológica das mentiras e as calúnias tecidas com protagonistas de ocasião e blindagem das suas (por definição) corruptelas de forma e conteúdo. O seu “maná” é o linchamento dos líderes sociais e a neutralização das movimentações populares. É o seu habitual orgasmo repressor. E despendem muito dinheiro para o conseguir. E tudo é redutível a mercadoria (incluso as próprias notícias) nos mercados concorrentes, disparando às claras, em horários precisos, contra a população até derrubar todo o bastião democratizador, o direito à informação e à comunicação. Uma “tomografia computadorizada” das notícias mostra o catálogo completo das taras com que se fabrica o “equilíbrio” informativo que cai sempre para a direita.
Essa disputa pela produção de sentido nas “notícias” tem ingredientes que se repetem no capricho posto nos cenários em que se luta para reprimir ou omitir o inimigo de classe que incomode o livre exercício do lucro contra o produto do trabalho. É produto envernizado com algum brilho de ilusionismo, individualismo e idolatria burguesa, mantida pela moral da propriedade privada e do seu fetiche multiforme nas mercadorias. É um grande exército para a defesa da propriedade privada.
Se a notícia burguesa serve para algo, não será mais que a sua conversão em expedientes de canalhices servis a interesses os mais aberrantes quer se trate de “notícias do espetáculo”, “notícias vermelhas”, “desportivas”… É no seu ser mercantil que se baseia o seu poder de ilusão sempre distorcida. Só se salva o êxito burguês, seus amos e criados. Tudo o mais é carne do inferno dantesco em que o proletariado terá de se bater entre detritos de “periodistas”, constantemente, sem tréguas e sentir a satisfação de “estar bem informado” pelo inimigo de classe.
Pela manhã, tarde e noite a disputa (guerra noticiosa) para dominar as ferramentas de produção de sentido nutre-se com mísseis de tática e estratégia burguesas. Que fique bem claro: Nenhuma semiótica que se preze pode ficar à margem desta guerra e da sua alma mater, a luta de classes, camuflada como “notícia”. Não há dúvida, a ética burguesa é rigorosa e não tem fronteiras, especialmente no que respeita aos lucros. Os seus mais destacados caudilhos são os que mais pagam para mentir e os que mais se aplaudem a si mesmos, inclusive com prémios e ovações académicas de mercado. Cumprem com o seu dever disciplinarmente, como soldados cuja precisão de ataque e ódio de classe se intercalam para se mostrar “equânimes”, informados”, neutros” e “profissionais”. Na alma da notícia, na sua estrutura interna, a mentalidade burguesa só aspira a dar um golpe certeiro, um crime perfeito, uma punhalada ideológica que anule o destinatário, que esconda a luta de classes e torne invisível toda a força transformadora nas mãos dos povos revolucionários. A forma e o género são só coartados para projetar munições e assegurar-se de territórios de todo o tipo.
 Nisto temos muito por fazer, começando por reconhecer nossas debilidades revolucionárias em matéria de produção de informação. São frentes concretas de luta: a batalha das ideias emancipadoras das notícias; a desmontagem dos seus dicionários e dos seus vocabulários, na maioria tributários de anglicismos léxicos e ideológicos. É frente de disputa a sintaxe, a ordem das ideias, os valores e as prioridades da ação e as formas de enunciar a transformação do mundo e o mundo mesmo em todos seus espaços. Contra a sintaxe paupérrima com que a burguesia apregoa suas verdades de escolinha pateta e contra a pedantaria dos donos do dinheiro, temos o desafio de romper o cerco monopólico que viola todos os preceitos e leis do mundo incluídas nas leis de comunicação que criou Equador, Venezuela e Argentina, que se atreveram a sonhar a democratização dos media e a desmonopolização de seus feudos “mediáticos”. Isso, sim, é notícia.

Fernando Buen Abad Domínguez

  Trad. CS/LA

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