.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Passos, o Homem-Público.

"O que há de melhor no desvio do Público a que temos assistido recentemente é que ele pode ser compreendido por todos, dispensando grande atenção ou especial conhecimento do tema. Com orgulho - com o orgulho de quem limpa o salão das festas para receber David Dinis - o jornal tem publicado editoriais atrás de editoriais com significado político, a demarcar nitidamente uma nova posição, recentemente inaugurada e que se prepara para assumir oficialmente a breve prazo.
O editorial de hoje é isso mesmo e, por isso, merece a leitura atenta de todos os que pretendem acompanhar este processo e compreendê-lo criticamente. Trata-se de um elogio ao estilo de Passos Coelho: o homem "que não vive para as sondagens", que "fala verdade aos portugueses", que não quer agradar nem diz o que os portugueses querem ouvir. No fundo, está validada a famosa expressão, pelo próprio proferida "Que se lixem as eleições!"
Foi nisto que o Público se tornou - um jornal brioso do seu pedantismo, mas que nunca abdicou de ser um serviçal, pronto para as mais boçais jogatanas da política caseira e do nacional-tacticismo.
O que tem piada nisto é que tratam Passos Coelho como nem a Emissora Nacional tratava Salazar ou como nem os livros de história do EN tratavam os bravos navegadores e os de geografia tratavam os rios de Angola e Moçambique. A heroicidade esforçada, a exaltação da dificuldade como um bem, "o caminho duro é o caminho bom" e, sobretudo, a fábula. A fábula que a imprensa cria para infligir paraísos artificiais à nossa realidade política e para nos fazer aceitar aquilo que, na nossa simplicidade, consideraríamos inaceitável."

1 comentário: