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domingo, 3 de julho de 2016

Uma excelente crónica de António Guerreiro



A jornalização em curso (2ª parte)

Em 1853, o escritor alemão Gustav Freytag, que nunca ocupou nenhum lugar de destaque na história literária, publicou uma comédia chamada Os Jornalistas que tem uma personagem exemplar, pela qual a peça continua a ser citada. Chama-se Schmock, essa personagem, e a sua réplica mais famosa, a que melhor serve para a caracterizar como um jornalista que se molda a todo os ambientes porque não se sente condicionado por convicções nem princípios, é aquela em que proclama: “Aprendi [...] a escrever para todas as tendências. Escrevi à esquerda e depois à direita. Sei escrever de acordo com qualquer tendência”.
NÃO PERCAM ESTA CRÓNICA DE ANTÓNIO GUERREIRO NO PÚBLICO DE 1-7-2016

- alguns tópicos:
 
«A dança frenética de directores, sub-directores, editores, colunistas e outros membros da oligarquia que domina hoje os órgãos de comunicação social: de jornal para jornal, da televisão para o jornal, do jornal para a rádio e vice-versa e em todos as direcções.»

«Sem projecto, sem tendência que não seja a dos ventos da estação, os media ficam ao serviço desta sociedade implosivo-mafiosa: este é o panorama com que estamos confrontados.»

«Abaixo desta estrutura gestionária está a massa dos jornalistas
proletarizados, sem qualquer autonomia, mesmo que continuem a assinar com o nome próprio: o jornalismo deixou de se conformar às exigências do trabalho intelectual.»

«Eles só existem e prosperam no seio de uma cultura decorativa, onde se pode escrever ou programar à esquerda ou à direita, de acordo com a tendência de ocasião. E todo o seu trabalho é dirigido a uma massa informe, em que também os leitores e os espectadores são vistos como
receptores acríticos.»

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