de Abrilabril
OPINIÃO
OPINIÃO
O Olimpo óbvio de Barroso
QUINTA, 14 DE JULHO DE 2016
Tal como qualquer sociedade secreta, o Goldman Sachs, que se apresenta como
«banco de investimento», não tem uma sede, uma placa, uma identificação visual.
Quando Lloyd Blankfein, o presidente do
Goldman Sachs, afirma que é «um banqueiro que faz o trabalho de Deus», há que
levá-lo a sério, tanto mais que não é conhecido por ser alguém que se perca em
metáforas. Da imagem de Deus ele tem o poder absoluto e discricionário da
mitologia que governa o mundo, o regime de mercado livre, isto é, o sistema
planetário de especulação financeira ao qual se subordinam a economia, a
política e os seres humanos.
Tal como qualquer sociedade secreta, o
Goldman Sachs, que se apresenta como «banco de investimento», não tem uma sede,
uma placa, uma identificação visual; os seus cerca de 35 mil membros
distribuem-se pelo mundo como actores de uma interminável dança de cadeiras em
que alternam a ligação ao banco com cargos públicos e privados onde cumprem as
recomendações cleptocratas emanadas pela corte do «Deus banqueiro».
A alusão à prática de latrocínio não tem
nenhuma intenção malévola, é meramente factual, uma vez que no ano de 2007,
quando o banco patrocinou a fraude com activos imobiliários que ficou conhecida
como «escândalo Abacus», e assim escancarou a crise mundial, os lucros do
Goldman Sachs foram de 12 mil milhões de euros – duas vezes e meia mais do que
os registados, por exemplo, em 2015. E os investidores perderam milhões, foram
enganados, isto é, burlados. Nada aconteceu, no entanto: um banqueiro júnior
serviu de bode expiatório e a seita financeira não parou de crescer desde
então.
O Goldman Sachs, no seu secretismo, na
sua organização conspiratória, na sua infiltração tentacular, é uma ala da teia
sombria onde se decide tudo sobre o mundo, muito acima das vontades expressas
pelas pessoas em consultas democráticas, e sempre contra as pessoas.
Ao lado do Goldman Sachs – ou melhor,
tecendo com ele uma malha quantas vezes indecifrável – encontramos o Grupo de
Bilderberg e a Comissão Trilateral. E também a NATO, o braço policial e
militar, que, não sendo secreto, tem da organização castrense a génese da
essência autoritária.
«Durão Barroso seguiu
os passos de compatriotas como o privatizador-mor António Borges e o seu
imediato Carlos Moedas, logo promovido a comissário europeu de Juncker.»
A ascensão formal de Durão Barroso a
este Olimpo que cuida da liberdade de mercado, assegurando o primado da
especulação financeira e da servidão humana, é um movimento natural de um peão
no tabuleiro de uma engrenagem que alimenta a exploração e a guerra como
actividades gémeas.
Não tiveram os súbditos do «Deus»
Blankfein qualquer pudor em dar publicidade à contratação de Barroso na mesma
altura em que o relatório Chilcot confirma o que já se sabia sobre a
ilegalidade e o carácter mistificador e assassino do processo de destruição do
Iraque em que ele participou. Da coincidência dos factos fica a mensagem de
desprezo e impunidade dos senhores da especulação financeira perante as leis e
as regras do mundo, das quais estão obviamente isentos na sua imunidade divina.
O denodado esforço de Barroso em usar os
últimos tempos à cabeça da Comissão Europeia para tornar irreversível o tratado
transatlântico (TTIP), o paraíso da banca norte-americana, fazia prever este
desfecho, sobretudo a partir da instalação como membro executivo do Grupo de
Bilderberg, onde já se encontra também Mario Monti, primeiro-ministro não
eleito de Itália, tal como Lucas Papademus na Grécia, ambos ligados ao Goldman
Sachs.
Durão Barroso seguiu os passos de
compatriotas como o privatizador-morAntónio Borges e o seu imediato Carlos Moedas, logo
promovido a comissário europeu de Juncker. De notar, en passant,
que um dos principais privatizadores em Espanha (Endesa, Telefonica, Repsol)
foi Claudio Aguirre, também ele sentado num lugar à direita ou à esquerda de
Blankfein.
De resto, como em qualquer mafia que se
preze, o Goldman Sachs é uma interminável família. Inclui 12 membros ao serviço
da administração Obama, sem contar com Rahm Emanuel, entretanto a desempenhar
uma comissão de serviço como governador de Chicago. O estratego financeiro da
campanha da senhora Clinton é do Goldman Sachs, tal como foi o secretário do
Tesouro do seu marido enquanto presidente, e vários outros secretários do
Tesouro noutras administrações, como Hank Paulson na equipa fora-de-lei de Bush
filho. O governador do Banco de Inglaterra, anteriormente no mesmo cargo no
Banco do Canadá; o primeiro-ministro da Austrália; o ex-presidente do Banco
Mundial, Robert Zoellick; o conselheiro de Temer no golpe brasileiro, Paulo
Leme; o vice-primeiro-ministro da ditadura militar egípcia, Ziad Baha-Eldin,
todos eles jogam com as cores pardas do Goldman Sachs.
A União Europeia em vez de «estar
connosco» está, obviamente, com Blankfein. Assim é com Mario Draghi, presidente
do Banco Central Europeu, um dos principais intérpretes do regime punitivo,
ditatorial e arbitrário de Bruxelas; com Romano Prodi, antecessor de Barroso à
frente da Comissão, pelo que é fácil adivinhar o futuro de Juncker; com o
comissário Moedas; com Otmar Issing, ex-membro da presidência do BCE.
Mario Draghi era um dos principais
representantes do Goldman Sachs quando este banco participou – com enormes
lucros – na manipulação da dívida grega para que parecesse respeitado o
fundamentalismo dos critérios de convergência. Envolvido na manobra esteve
também Lucas Papademus, figura do Goldman Sachs, depois vice-presidente do
Banco Central Europeu e primeiro-ministro do regime colonial instaurado em
Atenas pelas instituições europeias. Ao Parlamento Europeu, Draghi explicou que
nada tinha a ver com a questão grega, porque não tratava de assuntos do sector
público, mas do privado. E o Parlamento Europeu acreditou, porque não travou o
seu acesso à presidência do BCE.
Tal como acontece com o Grupo de Bilderberg
e com a Comissão Trilateral, o Goldman Sachs cuida do aparelho de propaganda ao
integrar figuras de proa dos principais grupos mundiais de comunicação,
jornalistas e escritores. Todos assegurando que o mercado seja livre através da
opressão do ser humano.
Houve deputados que votaram contra e, por esse voto, acusados de falta de patriotismo...
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