«… além de jornalista exímia, você preenche
brilhantemente os requisitos como membro da polícia feminina; aliás, no abuso
do poder, não vejo diferença entre um redator-chefe e um chefe de polícia, como
no resto não há diferença entre dono de jornal e dono de governo, em conluio,
um e outro, com donos de outros géneros» «não é comigo, solene delinquente, mas
com o povo que você há de se haver um dia» «pense, pilantra, uma vez sequer
nessa evidência, ainda que isso seja estranho ao teu folclore, ainda que a
disciplina das tuas orelhas não se preste a tanta dissonância: o povo nunca
chegará ao poder!» «louquinho da aldeia!... entrou de vez em convulsão, sabe lá
o que ainda vem desse transe paroxístico…» «o povo nunca chegará ao poder! Não
seria pois com ele que teria um dia de me haver; ofendido e humilhado, povo é
só, e será sempre, a massa dos governados; diz inclusive tolices, que você
enaltece, sem se dar conta de que o povo fala e pensa, em geral, segundo
anuência de quem domina; fala, sim, por ele mesmo, quando fala (como falo) com
o corpo, o que pouco adianta, já que sua identidade jamais se confunde com a
identidade de supostos representantes, e que a força escrota da autoridade
necessariamente fundamenta toda a “ordem”, palavra por sinal sagaz que
incorpora, a um só tempo, a insuportável voz de comando e o presumível lugar
das coisas; claro que o povo pode até colher benefícios, mas sempre como massa
de manobra de lideranças emergentes; por isso vá em frente, pilantra --- com o
povo na boca, papagueando sua fala tosca, sem dúvida pitoresca…»
De “UM COPO DE CÓLERA”
Raduam
Nassar
Excelente escolha, este extrato. De significado tão actual e tão oportuno, do lado de lá e do lado de cá do nosso comum Atlântico!...
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