A pescada
Referindo-se às eleições presidenciais, e
em particular a Marcelo Rebelo de Sousa, designava um colunista de um jornal
diário de «Presidente pescada», ou seja, antes de o ser já o era. Parece
ser este mesmo o cenário destas eleições: colunistas, opinadores, jornalistas e
alinhamentos de telejornais a quererem fazer crer que essa maçada das eleições
é absolutamente dispensável, e que o resultado do acto eleitoral de dia 24
próximo já está definido.
São os próprios produtores de tais factos
(os mesmos que há 10 e 5 anos traçavam um cenário idêntico de vitória
avassaladora de Cavaco Silva), os tais que «tanto vendem sabonetes como
presidentes da República», que agora registam com cínica admiração que
estas eleições estão fora do centro da atenção da população, fora da prioridade
das notícias, fora da atenção mediática. Curioso: quem faz alinhamentos
surpreende-se com os alinhamentos…
Esta farsa feita para demonstrar que o
resultado eleitoral dispensa a vontade de cada um, e é como a pescada, tem
dimensões verdadeiramente despudoradas. Numa ronda de entrevistas, a SIC dedica com pompa
e circunstância 43 minutos
a Marcelo Rebelo de Sousa, no Jornal das 20, em jeito de «conversas em
família» na Faculdade de Direito. O deleite dos entrevistadores é evidente, e
tem momento alto quando Marcelo é questionado acerca da possibilidade de concorrer a um segundo mandato
(!). Extraordinário. Esquecem-se, com certeza, que lhe falta ainda
ganhar o primeiro…
A ronda prossegue com a entrevista a Maria de Belém e Sampaio da
Nóvoa, também no Jornal das 20, mas desta vez de 23 minutos, e nos
estúdios da SIC. Na «Liga
dos últimos» ficam os restantes candidatos, entrevistados na SIC
notícias (disponível a quem o possa pagar) e uns envergonhados 15 minutos. O tom das
perguntas, como seria de esperar, não se repete. Basta pegar no exemplo da entrevista a Edgar
Silva, questionado sobre a eventualidade de desistir, de quem apoiará numa
segunda volta, etc., culminando com o que a entrevistadora considerou ser
obrigatório sublinhar com veemência e opinião, contrariando o que o candidato
havia respondido: mas o PSD ganhou as eleições!
Poderíamos enumerar outros exemplos como
tantos dias de campanha, com e sem candidato, em que nos 30 segundos que a caixinha mágica permite
passar sobre a candidatura de Edgar Silva, tudo é reduzido à resposta à
encomenda de reacção a qualquer perdigoto de Marcelo naquela semana. Ignora-se
o tema da iniciativa, a multiplicidade das vertentes do programa desta
candidatura, que é protagonista por direito próprio, desta batalha eleitoral.
No dia 4 de Outubro passado, os «vendedores
de sabonetes» enganaram-se, o povo português frustrou a campanha que
desencadearam ao longo de meses. Dia 24 de Janeiro, o povo português lá estará,
com o poder na mão de não juntar o seu voto ao de Passos Coelho, Paulo Portas,
Cavaco Silva e Ricardo Salgado, rejeitando o seu candidato – Marcelo Rebelo de
Sousa – e tomando partido pelos valores de Abril com o voto em Edgar Silva – um
homem justo para Presidente.
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