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domingo, 8 de novembro de 2015

O que faz uma pessoa ser mediática?


Bom, em primeiro lugar o que faz uma pessoa ser mediática é aparecer nos media. Existirão muitas outras razões que não cabem aqui, mas para aqui chamo apenas a de "ter fluência verbal".

Clara Ferreira Alves, creio que é este o nome, uma rapariga de cabelo curto e pintado de russo, opina num programa qualquer de televisão de que não me lembro agora o nome - para o caso isso também interessa pouco e reparem que nem me dou ao trabalho de pôr o google a trabalhar para confirmar o nome exato! - e tem fluência verbal.

Direi também que li a sua crónica, " Anticomunista, obrigada", porque o título me levou mas não lhe dei, no momento, qualquer importância. Consumi o texto como um, que entre tantos, devaneiam fluentemente, levianamente, sem qualquer preocupação documental  (como eu que não me dou ao trabalho de investigar o nome do programa em que a pessoa entra), sem coerência racional, com pés mas sem cabeça , um puro exercício emocional. Tem relativamente ao meu, aqui presente, também emocional, o cuidado jornalístico de se esquivar das rimas e a vantagem de ser escrito por uma figura mediática. 

Como vêem, também sei estender texto, a dizer pouco dos factos e a publicitar o que sou.

Sou um tipo com alguma fluência textual porque leio e foi por ler, que ao ver um rol de reações ao texto da "anticomunista", me deu também para escrever. Sou, portanto, também um tipo que vai no embalo dos mídia e, pior ainda, das redes sociais.

Não querendo seguir o exemplo da visada, de escrever um texto sem dizer nada, pronto, dizendo alguma coisa, dizendo por exemplo que o José Saramago gostava mais de António Costa do que de Alberto Camus, que Álvaro Cunhal se zangou com Agustina por ela não gostar dos Esteiros,  de que fui estudar para Coimbra com medo do PREC, de que a situação política atual do país se deve à intervenção do KGB e ao presente desleixo do Mário Soares... vou direto ao assunto!

Pronto! A minha questão é a seguinte: Porque é que ao fim de tantos anos da Clara ter estudado em Coimbra só agora é que se declarou anticomunista? Porque é que raio um espaço mediático, as redes sociais, os comunistas e eu, gastamos espaço a comentar o facto da senhora, finalmente, se ter declarado anticomunista?

Tenho a resposta! A senhora recorreu tão velhacamente à sua fluência verbal para se justificar anticomunista que chega a parecer "comunista" dentro da imagem que dos comunistas parece ter! A senhora, portanto, tem medo se si própria! Não é a única! Eu também!

Pois bem, senhora de cabelo curto e russo que comenta num programa qualquer de televisão, que escreve num jornal qualquer, que faz na vida não sei o quê, que pensa não sei como nem quero saber, de agora em diante existe uma razão para eu ser comunista, é a senhora não o ser. 

4 comentários:

  1. Excelente texto, que merece o meu total acordo... excepto com o uso desnecessário da palavra "mídia". Porque não sou brasileiro (parece que aos brasileiros, incluindo académicos, interessa mais a velocidade de inserção de novos conceitos no discurso do que o rigor) e porque não há qualquer razão para, em português (língua de origem latina), usar a reimportação, com carimbo inglês, da palavra latina "media" (já acolhida, pelo novo Aborto Ortofágico, com a grafia "média", das poucas coisas aceitáveis dessa aberração), que é, simplesmente, uma declinação (plural) de "medium". Os ingleses pegaram, muito bem, nesse plural, para designar sinteticamente "meios de comunicação", construindo a expressão "mass media", que assim chegou, em textos em inglês, à saloiada académica e jornalística cá do sítio, a qual sabe imeeeeenso inglês, mas pouco (cada vez menos) português, pelo que nem sequer reconhece a origem dos termos utilizados e raramente consegue encontrar expressões que traduzam as inglesices que nos vão submergindo e afogando o bom uso da língua pátria (excluo, naturalmente, certos termos ou expressões que, como através dos tempos sempre aconteceu, não são, de facto, traduzíveis e deverão aportuguesar-se em neologismos). E, assim, com o reforço da trupe brasileira, a coisa foi sendo assimilada pela maioria das pessoas: se vem no jornal, se é dito pelo Prof. Fulano... Pelo meio, há uns 15 anos, por acaso num colóquio organizado pelo Sector Intelectual do PCP, numa "Festa do Avante!", tive de chamar a atenção dos presentes (incluindo um conhecido professor universitário assaz estimável, meu "companheiro de mesa") para este "desvio", então ainda muito em voga. Parece que, entretanto, e felizmente, o uso desta inutilidade está em regressão. Mas creio dever continuar a alertar para coisas tão estapafúrdias como o uso da pronúncia inglesa de palavras de origem latina, grega, etc, há muito utilizadas, entre nós, com pleno conhecimento da sua genealogia: também já ouvi dizer (não escrever, vá lá!) "aicones" ou "aitens"...

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  2. Ora toma! Com que então "mídia"? Francamente... Se a ignorância pagasse imposto...

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    1. Não quis apontar uma ignorância que minimizasse a qualidade e oportunidade do texto, nem é disso que se trata. Trata-se, sim, de uma utilização tão vulgarizada que muito boa gente se deixa influenciar. O autor sabe escrever e transmitir o que pensa. Emendar não significa insultar. Todos erramos, sobretudo em coisas que já aprendemos com erros, a começar pelos cometidos por professores, familiares e, agora, muito frequentemente, por profissionais da informação, iniciando uma "corrente" que, por vezes, nos escapa. Pessoalmente, estou sempre a aprender, não raro sobre o uso de termos ou formulações tão comuns que o desvio da expressão correcta se perde no tempo. Os dicionários, mesmo os melhores (o Aurélio, p.e.) já validam disparates como "chamar à atenção", pois, sendo sua função acompanhar a língua viva, que evolui constantemente - mal ou bem -, por vezes, os autores consideram não ter outro remédio senão acolher o termo (ou expressão) adulterado e escrever "o mesmo, ou melhor, que..." Tenho dúvidas sobre diversos casos, se deveriam ou não condescender com certos desvios recentes, até de sentido (chama-se A ATENÇÃO de alguém para...), mas não posso considerar os colaboradores de um dicionário tão prestigiado simplesmente como "ignorantes".

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  3. Nem era absolutamente necessário
    a senhora de cabelo curto e russo
    tê-lo escrito

    Por sinal,
    já o vinha disfarçando mal

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