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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A luta de classes não se detem às portas dos “diários”

Isso a que chaman de “jornalismo”

Fernando Buen Abad Dominguez
Rebelión
(Tradução de Guilherme da Fonseca-Statter)
Nas empresas comercializadoras de “notícias” ou “informação”, isso que chamam de “jornalismo”, cada dia mais medíocre, mais corrupto e mais servil, constitui hoje uma das mais degeneradas máquinas de guerra ideológica capitalistas... A sua degeneração é o seu fracasso e ao mesmo tempo a sua denúncia. Denuncia-se a sua definição a partir da sua função distorsiva e aquilo que deveria servir para orientar a sociedade é, na realidade, um negócio para desorientar.

jornalismo” não é o mesmo que comércio de notícias. Ainda que se tenha instalado a ideia perversa de que apenas aquilo que vende diários é a informação, e com isso foram criadas licenciaturas, carreiras, pós-graduações e especialidades... ainda que prevaleça na cabeça de muitos a ideia de que “jornalismo” é a arte mercenária de vender a pena ao melhor licitante, ainda que impere o critério peregrino de que um jornalista é um comerciante de confiabilidade... e, ainda que se martele a falácia de que o jornalismo á a arte demagógica, a “objectividade” burguesa... o certo é que aquilo que chamam e praticam como “jornalismo” nas empresas de periódicos é uma mercadoria mais, submetida às piores leis do capitalismo. Sabem-no bem os trabalhadores.

Os factos que são gerados pela vida social, económicos, políticos, artísticos, culturais... a partir do seu motor histórico que é a luta de classes, não podem ser privatizados por qualquer manobra comercial ainda que esta seja capaz de os converter, segundo os seus interesses, em “informação” ou “notícia”. Os factos quotidianos (ocorram quando ocorram) produto das relacçãoes sociais, até hoje divididas em classes, além de requererem registos e análises científicas, exigem capacidade de relato clarificante, criativo e emancipador, para contribuir para elevar o nivel da consciência colectiva incluso na resolução de problemas individuais. A tarefa de produzir análises e informação periodística par além de ser praxis ética quotidiana, deve ser trabalho organizador para a transformação do mundo. Assím o exerceu o própio John Reed.

Nas empresas que fizeram da informação uma mercadoria caprichosa e desleal para com a verdade, o trabalho dos “jornalistas” foi deformado até à ignominia da escravidão do pensamento e da exploração de pessoas obrigadas a atraiçoar a consciência (individual e colectiva) sobre a realidade. Vive-se diáriamente um desfalque informativo contra todo o sentido comum e humilha-se a inteligência dos trabalhadores da informação submetendo-os a principios e fins empresariais cada vez mais medíocres, corruptos e mafiosos. A Sociedade Interamericana de Imprensa conhece bem esta história.

Nas escolas há não poucas tendências empenhadas em “formar” mão de obra barata, mansa e acrítica, disposta a engolir, con disfarce academicista, as condições laborais mais aberrantes em troca de ilusões de fama burguesa, prestígio de bufarinheiro e, desde logo, rentabilidade de cúmplices muito criativos na hora de tornar invisíveis as verdades mais duras, criminalizar aqueles que lutam por se emancipar e assegurar as vendas dos “informativos”. Títulos universitários de “jornalistas” amancebados com o capitalismo e seus ódios, assim seja necessário mentir, caluniar ou matar. Assím seja necessário auspiciar golpes de estado ou assassinatos importantes. Temo-los visto e vemo-los diáriamente. Quer seja na televisão, na teia, na rádio... nos media impressos.

Dignificar o trabalho do “jornalista” é um desafio social enorme que não se resolve só de maneira “corporativa”, nem só com “educação de excelência”, nem só com “boa vontade”. Trata-se de uma profissão, um oficio e uma tarefa política... Emperrada no pântano da guerra ideológica e na guerra mediática burguesa. Dignificar a definição e a função de jornalista compreende factores muito diversos que partem da base concreta de lutar contra o trabalho alienado e contra as condições de insalubridade ideológica extrema em que se desenvolve, sob o capitalismo. Dignificar o trabalho periodístico implica empreender, diáriamente, uma revolução de consciência e acção que devolvam à produção informativa a sua alma socialista e o seu poder como ferramenta emancipadora de consciências... implica pois devolver ao “jornalismo” a suas bússolas e as suas responsabilidades no caminho da revolução.

Isso implica exigências programáticas, organizativas e de disciplina cuja base é a luta de classes e cuja praxis deve andar ao lado das lutas emancipadoras da classe trabalhadora. Já basta que qualquer palhaço capaz de publicar, sob qualquer método e meio, as suas canalhices se faça chamar “jornalista” à custa de abastardar a verdade que é de todos. Travá-los de vez implica desensolvimento ciêntífico e político para conquistar um poder profissional e militante capaz de se pôr ao serviço da classe que emancipará a humanidade. É esse o seu melhor lugar. Isso implica promover novas escolas, novos estilos, sintaxe, comunicação e consciência revolucionárias. Isso implica nada menos do que impulsionar novas generacçãoes de trabalhadores do jornalismo emancipados da lógica do mercado informativo.

Agora que estamos enojados pela desfaçatez e impunidade com que exibem por toda a parte as suas canalhices, os donos e seus servos “jornalistas”, há que fortalecermo-nos para os combater. Agora que a náusea nos sacode e a irracioalidade do mercado informativo se converte em comando golpista e assasino, em todo o mundo, é preciso organizarmo-nos de maneira democrática, plural e combativa. Agora que se lançam as mais ferozes acometidas das máfias comerciais que vendem “diários” contra a verdade dos povos em luta e contra as suas realizações mais queridas... nós outros requeremos a unidade e a acção organizada desde a base como causa ética suprema. Agora que se alíam as máfias mediáticas e formam o seu exército de “jornalistas” para nos bombardear com misseis de injurias e mentira... nós outros devemos fazer do “jornalismo” uma frente rigorosa nos seus principios e adaptável na sua organização para abertamente nos juntarmos a todas as forças da comunicação emancipadora de onde se proporcione colaboração revolucionária sem limites. Pelo menos. Assím, isso que chaman “jornalismo” deixará de ser, muito em breve, reducto de farsantes mercenários enfermos consuetudinários da mentira para se converter, de uma vez por todas, numa ferramenta criativa da verdade ao serviço da revolução. E já há muitos trabalhadores que avançam, todos os dias, por esse caminho.


Este artígo foi publicado com autorização do autor mediante uma licença de Creative Commons, respeitando a sua liberdade para o publicar noutras fontes.



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