Perseu
Abramo
3º post
2. Padrão de Fragmentação - Eliminados os factos definidos como não-jornalísticos, o
"resto" da realidade é apresentado pela Imprensa ao leitor não como
uma realidade, com suas estruturas e interconexões, sua dinâmica e seus
movimentos e processos próprios, suas causas, suas condições e suas consequências.
O todo real é estilhaçado, despedaçado, fragmentado em milhões de minúsculos factos
particularizados, na maior parte dos casos desconectados entre si, despojados
de seus vínculos com o geral, desligados de seus antecedentes e de seus consequentes
no processo em que ocorrem, ou reconectados e revinculados de forma arbitrária
e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais, e
artificialmente inventados. Esse padrão também se operacionaliza no
"momento" do planejamento da pauta, mas, principalmente no da busca
da informação, na elaboração do texto, das imagens e sons, e no de sua
apresentação, na edição.
O Padrão de Fragmentação implica
duas operações básicas: a Seleção de Aspectos, ou particularidades, do Facto e
a Descontextualização.
A Seleção de Aspectos do facto que é
objeto da atenção jornalística obedece a princípios semelhantes aos que ocorrem
no Padrão de Ocultação. Embora tenha sido escolhido como um facto jornalístico
e, portanto, digno de merecer estar na produção jornalística, o facto é
decomposto, atomizado, dividido, em particularidades, ou aspectos do facto, e a
Imprensa seleciona os que apresentará ou não ao público. Novamente, os
critérios para essa Seleção não residem necessariamente na natureza ou nas características
do facto decomposto, mas sim nas decisões, na linha, no projeto do órgão de
imprensa, e que são transmitidos, impostos ou adotados pelos jornalistas desse
órgão.
A Descontextualização é uma
decorrência da Seleção de Aspectos. Isolados como particularidades de um facto,
o dado, a informação, a declaração, perdem todo o seu significado original e
real, para permanecer no limbo, sem significado aparente, ou receber outro
significado, diferente e mesmo antagônico ao significado real original.
A fragmentação da realidade em
aspectos particularizados, a eliminação de uns e a manutenção de outros, e a
descontextualização dos que permanecem, são essenciais, assim, à distorção da
realidade e à criação artificial de uma outra realidade.
(Próximo
post -3. Padrão da Inversão)
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