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domingo, 9 de agosto de 2015

Novos desafios, velhas questões - PHILIPPE BACH



WWW.LECOURRIER.CH
SAMEDI 8 ET DIMANCHE 9 AOÛT 2015
NO 175  -_ 148EANNÉE _ CHF 3.00
 éditorial
PHILIPPE BACH



A emergência da “sociedade numérica” constitui uma reviravolta histórica comparável à do desenvolvimento da imprensa. Uma ruptura que tem impacto em todos os aspectos da nossa sociedade. Ela modifica profundamente as relações de produção[1], representa uma gramática política inédita e constitui uma nova maneira de construir o conhecimento. É portanto de saudar que o Forum Alternatiba, que se realizará em Setembro em Genève, consagre um painel a esta problemática em plena evolução.
De facto, muitas esperanças – embora algumas sem dúvida excessivas – tinham sido colocadas neste desafio tecnológico. Assim, alguns viram nesta ferramenta uma alavanca para, sem dor,  mudar a direcção para o post-capitalismo; a difusão de conhecimentos, do saber e da cultura que ela permite era visto como um modo de minar o Estado-Nação, compreendido este, numa leitura libertária da coisa política, como um instrumento de opressão e de alienação. E o “software” livre devia servir de aposta certeira para uma sociedade livre e auto-gerida.
Vê-se bem que não é assim. Google era no início um projecto alternativo: tornou-se uma multinacional ávida de lucros, que mina os fundamentos da imprensa escrita e a qualidade de informação. E o gigante Samsung consegue casar muito bem os seus lucros com o “open source” da Android.
Por vezes apresenta-se a Renascença como sendo o puro resultado da invenção da imprensa, que permitiu a difusão do saber. Mas também se pode fazer um raciocínio inverso: o desenvolvimento do comércio e o aparecimento de um capitalismo primitivo obrigaram essas sociedades a modernizar-se e a produzir invenções que permitissem o desenvolvimento da economia: imprensa, invenções para poder navegar sobre os mares desconhecidos, utilização do zero apesar de tudo mais eficaz quando se tem de manter livros de contabilidade…, etc.
Pode fazer-se uma comparação com o surgimento da “sociedade numérica”: o fim dos “Trinta Gloriosos” tornou necessário um novo ciclo do capital[2] para encontrar taxas de lucro[3]. Permitiu a mundialização. Hoje, as trocas são de facto globais e instantâneas.
A questão do bem comum, da socialização das ferramentas de produção e da democracia volta ao centro dos debates. Mas teriam alguma vez deixado de estar?


[1] - numa perspectiva marxista, o capital é uma relação de produção, pelo que – nessa perspectiva – o que profundamente se alterou e altera é a relação de forças (das classes) na relação social, quer em termos quantitativos quer em termos qualitativos. (SR)
[2] - nas suas materializações e metamorfoses para acumulação, concentrando-se; e nas novas condições criadas pelo derrube dos países europeus em via socialista, em 1917 e no post-guerra (SR).
[3]  - em baixa tendencial dada a sua composição orgânica essencial. (SR)

(tradução e notas da responsabilidade do blog)

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