MAINSTREAM por|
José Goulão
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A ditadura do mainstream é
elegante, bem falante, civilizada, polida, tolerando muito bem os programados
excessos. Porém, é impiedosa, ou não fosse uma ditadura para os que não têm a
bem aventurança de pertencer à ordem, afinal a maioria dos que habitam a
comunidade de onde ela emana.
Mainstream, ao contrário do que rezam certas definições académicas, não é uma
cultura de maiorias, de massas, de moda. É um círculo elitista, fechado, dentro
do qual se passa tudo o que nos diz respeito sem que tenhamos nada a ver com
isso.
Mainstream define a ordem dominante e o resto, incluindo os que julgam pertencer-lhe, seguidores bem comportados, é simples macaqueação.
Mainstream define a ordem dominante e o resto, incluindo os que julgam pertencer-lhe, seguidores bem comportados, é simples macaqueação.
Mainstream é a política única, a permitida, uma união nacional com as suas alas
liberais, é a suserania dos mercados, a sociedade das pessoas virtuais onde nem
só da farda de marca vivem as aparências mas também das excentricidades
diletantes, são os jornais de referência, as televisões que dão ao público o
que o público quer, a literatura de grandes superfícies e lojas de
conveniência, os opinion makers, os comentadores oficiais com chancela política
e outros que são também oficiais mas sem chancela política almejando que lhes
seja concedida, os que ocupam as franjas folclóricas de marginalidade para
compor o ramalhete plural e que, começando normalmente por professores dos
trabalhadores e do irredentismo democrático, acabam como chefes dos patrões,
frequentadores de Bilderberg e compreensivos para com o papel da espionagem ao
serviço do poder.
Mainstream é, hoje, a ordem neoliberal com os seus satélites, que giram
enquanto forem necessários, é a lei de violar as leis, o direito de atacar os
direitos humanos em nome dos direitos humanos, de subverter a democracia em
nome da democracia, de governar à direita e à esquerda desde que estejam dentro
do mesmo centro, o culto da corrupção e do amiguismo se tudo se passar no
interior do círculo dos escolhidos, a selecção natural da competitividade onde
só cabem os paquidermes do negócio.
Mainstream é uma ditadura do faz-de-conta porque não se pratica aquilo que diz
praticar-se, não se disse aquilo que se disse, jamais se escuta a voz
dissonante, raramente se fala verdade em nome da verdade, nunca se faz em
benefício do ser humano o que se cria e desenvolve em seu nome.
A ditadura do mainstream é a mais perigosa, porque tarda a ser identificada por
aqueles que lhe estão submetidos enquanto age conscientemente para os deformar.
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